Cresce procura para avaliação de autismo na rede pública do Rio, mas maioria dos pais recebe outro diagnóstico

  • 23/07/2025
(Foto: Reprodução)
Procura por diagnóstico de autismo quase triplica no Rio, mas maioria dos casos não se confirma A busca por avaliação para diagnóstico de autismo cresceu significativamente na rede municipal de saúde do Rio. Mas um levantamento inédito, ao qual o RJ2 teve acesso, mostra que a maioria das crianças que passam pelo protocolo completo de avaliação termina com outro diagnóstico. Andrea Cardoso Fernandes procurou um dos Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenis (Capsi) da prefeitura com a suspeita de que a filha, Isabela, pudesse ter transtorno do espectro autista (TEA). A menina passou por atendimentos com diferentes profissionais. “Ela não conseguia falar, não conseguia se desenvolver. Ela teve muitas questões que levavam, sim, a pensar que era autismo, mas que aqui conseguiram desbravar esse mundo e aqui concluíram que não era autismo”, contou Andrea. Assim como Andrea, muitas famílias chegam aos Capsis com suspeitas semelhantes. É nesses centros que são feitos os atendimentos de crianças e adolescentes com possíveis transtornos mentais. No ano passado, a rede municipal de saúde recebeu quase 14 mil pedidos de avaliação de autismo (13.803) — um número quase três vezes maior do que em 2023, quando foram 4.809 solicitações. Com o aumento na demanda, a Superintendência de Saúde Mental decidiu investigar o perfil dos atendimentos, com base em dados de dez centros especializados. Dados sobre diagnósticos de autismo na Rede Municipal de Saúde do Rio Reprodução Entre janeiro e maio deste ano, 1.679 crianças e adolescentes concluíram o protocolo completo de avaliação. No entanto, apenas 33,7% deles tiveram o diagnóstico de TEA confirmado. Os dados são de janeiro de 2024 a maio deste ano. “É um percentual pequeno comparado ao que chega pra avaliação. Há, sim, uma demanda muito expressiva. Qualquer dificuldade no desenvolvimento já gera uma suspeita, e muitas vezes se desconsidera o contexto familiar, a convivência na escola. Isso tem que ser considerado”, explica Alice Peçanha Oliveira, assessora técnica em saúde mental da Secretaria Municipal de Saúde. Segundo os técnicos, são necessários pelo menos cinco encontros com diferentes especialistas para concluir o diagnóstico. “Ficou muito claro que qualquer discrepância no desenvolvimento infantil é apontada como um aspecto dentro do espectro do autismo. Então, vem um número muito grande de crianças de certa maneira já pré-diagnosticadas na escola ou pelo conhecimento do senso comum”, afirmou Hugo Fagundes, superintendente de saúde mental da secretaria. “E, bem avaliadas, essas crianças vão ter o suporte que elas precisam para desenvolver aquilo que é de fato preponderante”, completou. O aumento nas suspeitas e diagnósticos motivou a Secretaria Municipal de Saúde a organizar um evento para debater o desenvolvimento infantil. A professora da Unicamp, Maria Aparecida Affonso Moysés, que participou das discussões, destacou que o número crescente de diagnósticos pode estar relacionado a fatores sociais e educacionais. “A gente não tem uma epidemia de transtornos, a gente tem uma epidemia de diagnósticos. Temos uma sociedade que é fundada na desigualdade, que não respeita as diferenças. E as diferenças e desigualdades são varridas para baixo do tapete. Todos os problemas coletivos, políticos, econômicos e sociais são tratados como se fossem problemas individuais, biológicos”, afirmou. “É duplamente cruel. Porque você coloca o rótulo de um transtorno — seja TEA, seja TDAH — numa criança que só é diferente, só não se adequa, não aceita os padrões e questiona. Você coloca o rótulo nela e também é cruel com aquele que realmente tem um problema, que precisa de uma atenção especializada e que não consegue chegar lá.” O diagnóstico correto, porém, pode fazer toda a diferença. Miguel, por exemplo, tinha três anos quando a escola orientou a mãe, Ana Monteiro, a buscar um atendimento especializado. A suspeita se confirmou: ele é autista. Com o acompanhamento adequado, o desenvolvimento dele melhorou muito. "Ele agora tá muito mais autônomo, consegue fazer mais as coisas, independente, está falando bem mais. Antes eram só palavras soltas. A forma de brincar era mais isolada”, contou Ana. Hoje, Cleidiane Souza se dedica a ajudar outras famílias que estão recebendo o diagnóstico. Mãe de Artur, de seis anos, ela lembra como o apoio de outras mães fez diferença na época em que passou pelo mesmo processo. “A sociedade tem um preconceito e quando as pessoas não têm essa vivência, fica mais difícil. Quando você está em um ambiente que você pessoas junto com você, fica mais fácil”, contou. “Hoje, Artur tem bastante autonomia, não tem mais seletividade alimentar. Eu tenho mais força pra levar ele para os lugares, eu tinha vergonha porque ele tinha muita estereotipia, era muito agitado... Hoje ele faz futebol, faz natação. Hoje eu estudo, trabalho e tenho mais força pra viver.” Criança em consulta com equipe de atenção psicossocial da Prefeitura do Rio Reprodução/RJ2

FONTE: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2025/07/23/cresce-procura-para-avaliacao-de-autismo-na-rede-publica-do-rio-mas-maioria-dos-pais-recebe-outro-diagnostico.ghtml


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